O tormento e as lágrimas secas
De assistir repetidamente
O passado fantasma que o persegue
Ser condenado por si mesma
Pela fraude de tudo que o compõe
O logro de sua decência
Que se sustenta por sorte e blefe
Vergonha do que já não pode negar
A solidão de sua natureza feia
Condenação perpétua
Que respira como vidro moído
Corta por dentro devagar e sutil
Escondendo o rosto porque sente
Carregar clara evidência
De toda nojeira que abriga
Se contorce pela dor nas entranhas
Debate-se e da com a cabeça na parede
Em desespero, sem conseguir
Derramar nenhuma lágrima
Que te alivie esse pesar
Deita numa cama de pregos
Na qual se revira a noite toda
Alfinetado pelos fragmentos
De memória manchada
Por uma realidade podre
Da qual faz parte tão profundamente
Que já nem sente o cheiro
Cata os cacos dos cristais que quebra
Por sua doença de tremedeira
E esfrega na pele com destreza
Como quem aplica um peeling importado
Para forjar a situação e sensação
De que foi necessário e estratégico
Que é fineza e que valeu a pena
Destruir o pouco de bom
Que se encontrou nessa vida
Engole a dor como se fosse confeito
Enche a boca e empurra pra dentro afoito
Montando um sorriso desesperado
De agonia relutante
Pra que o corpo convença a mente
De que este estado é o que se quer
Despedaça sua inglória e embrulha
Em papel colorido barato
Roubado da escola
Que frequentou ignorante
E distribui pra pessoas desgraçadas
Que acham o máximo as migalhas
Deste personagem
Personagem esse
Que convence até que bem
Porque antes convenceu a si mesmo
Mas que caiu diante da plateia
Quando no fundo do salão
Sem querer se viu no espelho
De modo que o gesso e a tinta
Que cobriam e moldavam sua farsa
Esfarelou e derreteu
Numa única e ridícula cena
Gerando nenhum aplauso
Mas um insuportável silêncio
De desconcertante embaraço
oi
ReplyDeleteOi s2
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